Enquanto mundo mira Índia, "efeito sanfona" põe Brasil na rota de 1 milhão de mortes, apontam esp
29/04/2021Nos últimos dias, boa parte do mundo desviou sua atenção para a Índia, que desponta como novo epicentro global da pandemia da covid-19, com cenas trágicas de cremações em estacionamentos e doentes morrendo na porta de hospitais por falta de oxigênio. Enquanto os holofotes estrangeiros saem do Brasil, hospitais em alguns Estados celebram quedas nas internações em UTIs. É o caso de São Paulo, que na quarta-feira (28/04) apontou baixa de 26,9% nas internações de pessoas com o novo coronavírus em um mês. Para muitos, os dois movimentos trazem impressão de suposto controle da doença no Brasil, mesmo com o país registrando 3.019 mortes só nas últimas 24 horas, com um total de 398.343 óbitos desde o início da pandemia. Com uma população seis vezes maior que a brasileira, a mesma Índia que agora ocupa o lugar do Brasil na imprensa internacional teve 3.645 mortes no mesmo período, com um total de 204.832 óbitos. Nos dois países, segundo especialistas, a subnotificação da doença mascara o real alcance da pandemia. A percepção de recuo da pandemia no Brasil seria não apenas precipitada e falha tecnicamente, mas também perigosa, alertam cientistas. Para membros de alguns dos principais grupos de estudos investigando a pandemia no país, a falta de uma resposta centralizada pelo governo federal e o uso de dados de internações fora de contexto estimulam o relaxamento precipitado de medidas ainda necessárias de isolamento social, o que prolonga o pico da doença no país e pode resultar em novos recordes de casos e mortes. E o problema brasileiro pode ir além, como explica o neurocientista Miguel Nicolelis, que coordenou o Comitê Científico do Nordeste, criado em março de 2020 para organizar a resposta dos nove Estados da região à pandemia. "Quando eu estava no comitê, no ano passado, apareciam números estáveis durante a semana e governadores já me ligavam dizendo que a pandemia tinha acabado", conta o cientista por telefone à BBC News Brasil. "Houve uma queda porque medidas mínimas foram adotadas em alguns lugares, (...) mas essas quedas são temporárias. Essas mudanças estão dentro da margem de variação estatística e só servem para políticos brasileiros as usarem como desculpa pra relaxarem medidas", diz. "Isso não é sustentável." No fim de março, o mesmo cientista chamou atenção ao prever que o Brasil chegaria a 500 mil mortes até junho. Semanas mais tarde, a universidade de Washington fez estimativa semelhante, levando em conta uso de máscaras pela população, mobilidade social e ritmo da vacinação, e disse que, até 30 de junho, o país chegaria a um total de 562,8 mil mortes. Fonte: BBC
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